O exemplo arrasta

O moral dessa história de exemplos, pensamentos positivos e atitudes que arrastam, quase todos estão carecas de ouvir, mas pode ser que os mais novos, que utilizam o espaço desse "site" para tantas atividades, não tenham conhecimento, por isso me disponho a contá-la de uma forma diferente, baseado na minha experiência de vida, pois, quando eu era criança no interior de Montalvânia (interior do interior) alguém me perguntou o que eu queria ser quando crescesse, se crescesse né? Porque sobreviver naquelas condições já era uma vitória e eu respondi sem pestanejar: - QUERO SER VAQUEIRO. Ora, naquela época eu só convivia com meus parentes e era o que eles sabiam fazer e faziam muito bem e com prazer.

Mas, meu pai, meu ídolo, trabalhou duro, ganhou um dinheirinho, deixou a roça e comprou uma casa na vila, para que os filhos pudessem estudar e para lá fomos nós. Foi quando vi um caminhão pela primeira vez, fazendo zique-zaque para sair de um atoleiro. O motorista fazia manobras loucas e então eu mudei de opinião e quando me perguntavam o que eu queria ser, respondia que queria ser CAMINHONEIRO. Era a coisa mais incrível que eu tinha visto e passei a sonhar com longas viagens, caminhão roncando na estrada..... "no peito a sombra de um dragão" e etc.

Mas, com o passar do tempo os caminhões se tornaram rotina em minha vida e eu, estudando, queria ser PROFESSOR. Depois, passei a querer ser AUXILIAR DE ESCRITÓRIO e trabalhar como auxiliar no Escritório de Contabilidade do Zé Pereira/Toninho foi a realização de um grande sonho e quando fui trabalhar no Cartório (do Orlando) passei a sonhar em ser dono de cartório.

Mas o sonho de meu pai era que eu fosse "Advogado", como Sebastião Custódio e meu pai sempre dizia para mim e para todos os amigos que eu iria ser e aos 17 anos passei a sonhar também o sonho de meu pai e acreditar, embora não soubesse muito bem o que era, mas, com muita luta minha e de toda minha família, consegui, depois que passei pela experiência de ser faxineiro e office boy.

Bem, mas o que importa nessa história e que gostaria de ressaltar é que minha vontade foi mudando com o TEMPO, com o INCENTIVO do meu pai/amigos e com os EXEMPLOS que via ao meu redor, por isso penso que é necessário que tenhamos sempre um PENSAMENTO POSITIVO, um BOM PROPÓSITO, um QUERER FIRME e ACREDITAR QUE TUDO É POSSÍVEL na medida de nosso ESFORÇO e de nossa FÉ, por isso devemos ter cuidado com o que DESEJAMOS, para nós e para os outros, com o que FALAMOS e principalmente com o NOSSO AGIR, pois o EXEMPLO ARRASTA.

Enviada por: Enviada por: Carlos Reis


         Vai gostar de doce assim

A nossa turma era levada. Muito menino cheio de estripulias. Eu, Vandão de Nestor, Washington Sabino, Mádson, Jordão, Paulo do Sargento, Nanô, Marquinhos de Manu, Tonhão, Liberato, Cícero, Tico, César (irmão de Tico, hoje, Da Mata) e tantos outros garotos de uma época nobre o deliciosa de Montalvânia. Tomávamos, todo santo dia, banho do Cochá, brincávamos de bang-bang nas ruas, jogávamos futebol no campão, na quadra do Clube Camponês, bolinha de gude em tudo quanto é canto e, nos finais de ano, íamos seguindo os violeiros nas folias de Reis. Aí é que está o cerne de nossa história (com agá porque é verdadeira). Dentre esses e mais os \"tantos outros\" havia um colega, o qual chamá-lo-ei de Luizinho e dar-lhe-ei filiação de D. Izaura. Pois, ora, pois. Luizinho era, de nós, o mais levado e sem-vergonha. Em toda e qualquer festa, era o primeiro a enfiar a mão nos quitutes oferecidos.

D. Izaura tinha muita vergonha do \"maleducado\" (assim mesmo, com erro de português e tudo). Dias daqueles, festa de Santos Reis na Vila Nova, casa de seu Jerônimo Baixinho, a viola comia solta. É claro, D. Izaura e seu filhote estavam presentes. Ela, anteriormente, na saída de casa, advertiu severamente ao pimpolho de que Ele só aceitaria qualquer guloseima que Ela confirmasse. Ainda, disse-lhe que não aguentaria do moleque qualquer descompostura, haja vista que o sem-vergonha era useiro e vezeiro na boca-porca. Todos os palavrões se lhe sobrepunjavam a mente. Era mestre nisso.

A mãe, contudo, lhe havia, além de ofertas de belos puxões de orelha, mostrado uma cinta de couro cru que, certamente, iria ao seu lombo assim que perpetrasse qualquer malandragem que enverganhasse o bom nome da família izaurina. Bem, na festa, o que era comum naquele tempo, sobrevinham cestos de deliciosos quitutes. O primeiro a ser servido pela filha de \"Jerumim\" foi peta. Ofertado o petisco ao Luizinho, esse, lampreiro, leva a mão à cesta, mas foi severamente repreendido por D. Izaura. \"Ele num quer não. Nun gosta de peta\". Luizinho franziu a testa, grunhiu qualquer coisa e aboletou-se quito ao canto da sla. Olhou furibundo a mãe e sapecou baixinho palavras ininteligíveis.

Mais tarde, novamente outra cesta de biscoito roda a sala. Desta vez, pão-de-queijo. Os olhos de Luiz brilharam. Ao levar a mão a cesta, novamente D. Izaura alardeou. \"luizinho quer pão-de-queijo não. Ele num gosta\". O menino arrepiou. Olhou para a mãe de cima a baixo e quase vociferou palavrões. Contudo, lembrou-se da cita de couro cru e aquietou-se. Mais tarde, uma bandeja de bolo de fubá...o preferido do moleque, que, babando, avança sobre a bandeja. A mão de D.Izaura o freiou: \"gosta não. Quer não\". Essa foi de lascar, luiz foi ao fundo do poço. Mas resignou. Então veio o doce de leite. Aquele delicioso doce de leite em postas, cortado, durinho, cheiroso, maravilhosamente bem feito por D. Catarina, esposa de Seu. Jerumim. Tão bom quanto o doce feito por D. Maria de seu Nestor, mãe de Vandão. Luizinho levou a mão já deliciando aquela guloseima. Com a mão já na borda da bandeja escuta a Velha D. Izaura afirmar: \"Ele nun qué não. Luzinho não gosta de doce. Nun gosta não\".

Aí foi demais, o rebento, torce o nariz, respira fundo, olha para a mãe com olhar de tatu enjaulado, encara bem a mãe e diz: \"num gosta...num gosta...olha a bestage de mãe? Eu já dei até o cu por um pedaço de rapadura num vô gostar de doce de leite?\"

Enviada por: Cid Olímpio


         Crônica do dia da eleição

O domingo já amanheceu com o sol escaldando e escancarando mais um dia dessa seca terrível que assola o norte de minas e todo o sertão nordestino.

Mas, nesses tempos de política, só o fazendeiro lembra da falta de chuva. O povão pensa mesmo é na eleição. É 22? É 14?, chegou o dia D. Os nervos estavam a flor da pele. - Vamos ganhar com 1500 de frente, me confidenciou Loló, 14 doente. - O povão tá do nosso lado. Imagina só! Aquele último comício do 22! Essa eleição tá parecendo a de Laurindo e Chico Reis, e o resultado vai ser o mesmo - Retrucou Miguel Cascudo, 22 cansado de apanhar. Votei na parte da tarde.

Os grupos ja se formavam nas esquinas, ruas e na praça. Ás 17:00hs fui pra sorveteria do Nei, pedi um duplo com coca-cola e fiquei aguardando a divulgação do resultado. Após uns 15 minutos ouvi gritos de alegria vindo do rumo da Escola, onde ocorreu a votação. Olhei pra Rua do Meio e lá do final vinha carros buzinando, motos acelerando e gente gritando: - Eles (22) só tiveram 10 votos de frente! Cadê os 200 de frente tiuzada! Toca a música do jegue aí.

Um ex-político local saiu correndo de sua casa em direção á esquina da praça e quando soube da pequena vantagem do 22, abriu os braços, ajoelhou e gritou: GANHAMOS A ELEIÇÃO, GANHAMOS A ELEIÇÃO! Voltou na sua casa, pegou a moto e eu perguntei: - Vai pra onde? - Vou pra Montalvânia comemorar junto com o Padre Zé. Saiu e parou no orelhão. De repente passa Marquin de Tiana na moto buzinando e ouço o pessoal do 22 comemorando. Pensei com meus botões,\" os dois ganharam? como é isso? Tão rápido quanto saiu voltou o ex-político. Perguntei: - Como é isso? O dois lados estão comemorando. - Perdemos a eleição. Em Montalvânia Jordão disparou na frente. Ainda bem que telefonei! Rapidamente juntou gente em frente ao bar de dona Preta. Rosalvino Polada era só felicidade.

Olhou pro lado do restaurante e desabafou: -\" será que nunca ia chegar o dia d\'eu lavar meu coração? Cadê o jegue? Bota o som do jegue! Antão não parava de dançar, seu Júlio sorria e chorava ao mesmo tempo. Cassimira com uma bandeira corria pela praça, seguida por um cordão. Esfuziantes, seu Messias, D Virginia, Geraldão e outros assistiam a tudo sentados debaixo do centenário pé de tamarindo.

A festa rolou em paz até altas horas. Foi a vitória dos excluídos. É inegável que Montalvânia melhorou na administração do 14. As melhorias cessaram e com o tempo veio a arrogância, a discriminação e o comodismo que tomaram conta do povo 14. Valeu Tita, a bola agora é contigo.

Enviada por: Galvão (São Gonçalo)


         Só Filó Tando

Quero aproveitar esse espaço para narrar um episódio ocorrido há cerca de quarenta anos, no vizinho município de Cocos.

Naquele tempo (presumo que hoje não seja muito diferente), os jovens, em sua maioria, buscavam oportunidade de trabalho em Brasília. Em razão do baixo nível de escolaridade, as oportunidades apresentavam-se escassas, ralas. As moças iam trabalhar como empregadas domésticas e os jovens como cobradores de ônibus (os mais letrados) e serventes de pedreiro (os de menor conhecimento das letras).

Um desses jovens tinha chegado recentemente da capital federal. Ostentava galhardia e não se fazia de rogado em exibir novidades e atualidades angariadas naquela cidade. Certo dia houve um baile numa pequena fazenda, próxima a sua residência. Como todos sabem, as propriedades rurais, na sua maioria, são pequenas e muito estreitas, ao ponto de permitir que alguns gaiatos zombem dos seus proprietários afirmando que, ao morrerem, não poderiam ser enterrados “de travessa” pois os pés invadiriam a propriedade vizinha.

Como era costume, o pessoal das adjacências comparecia em peso ao evento. Iam a pé. As mulheres na frente, os homens mais atrás. Em cada fazenda que passavam, mais pessoas engrossavam os dois grupos. O grupo de mulheres chegava rápido. O dos homens chegava com atraso de mais e meia hora já que seus integrantes faziam muitas paradas para tomar a “maldita”.

O baile bombava. A “latada” na frente da casa estava lotada. O vendedor de bebidas, num canto da cobertura improvisada, servia pinga, cortezano, jurubeba, paratudo e outras bebidas de padrão e preço equivalentes. Usava apenas um copo e os fregueses faziam fila. A cada dose vendida o comerciante mergulhava o copo em uma pequena bacia com água, colocada em cima de uma pequena mesa, dando uma “chaquaiada”. No final da festa, se alguém bebesse uma dose daquela agua, cairia “bebim” da silva embaixo da mesa.

No auge da festa chega o grupo de mulheres e nele uma prenda se destacava pela beleza. Logo chamou a atenção do nosso galã que, ao vê-la, partiu para o ataque. Convidou-a para dançar.

A dama respondeu de pronto: “EU SÓ DANÇO FILÓ TANDO”. O mancebo coçou a cabeça... Pensou... Afastou-se murmurando: “Caramba, tanto tempo em Brasília e nunca ouvi falar dessa dança nova”. Aproximou-se do vendeiro, tomou uma ripada dupla de pinga e voltou a abordar a bela senhora: “Vamos dançar, dona! A resposta foi imediata: “Eu já disse para o senhor, SÓ DANÇO FILÓ TANDO”. O sujeito se desesperou. Tomou várias doses da “maldita”. Depois de cada dose, fazia nova investida. A resposta era sempre a mesma.

Depois da sexta dose, cheio de coragem, resolveu: “Vou dançar esse tal de FILÓ TANDO de qualquer jeito. Ela vai ter que me ensinar. Partiu para a senhora e fez o ultimato: “Dona, a senhora vai ter que dançar comigo de qualquer jeito! A mulher, calmamente, explicou: O senhor não está entendendo. Sou casada e só danço com meu marido tando presente. O nome dele é Filó. Portanto, só danço “FILÓ TANDO”.

Enviada por: Internauta - Belo Horizonte


         Partida do Bisavô

Neste dia, a noite chegou mais cedo em Gerais de São Felipe, Minas Gerais. Mal o sol afundou através da serra, partiu meu bisavô rumo ao desconhecido, deixando para trás tudo; seus parentes e tentar um recomeço de tudo. Noite escura de dezembro, uma garoa persistia á dias, por isso o frio contido nos fundos dos grotões ia se espalhando. Em companinha apenas de seu burro, um cachorro amigo, variedades de sementes e manivas tuberosas.

Não vou relatar o motivo de sua fuga premeditada, pois não faz parte do que eu quero relatar, nem devo fazê-lo. Foram 30 dias de viagem, descansava de dia e viajava a noite, seria mais seguro para sua pessoa. E assim embrenhou mata a dentro por aquelas paragens, ouvindo grilos afiando ferros e morcego costurando á esmo, estendendo pano preto, deixando a noite mais assombrosa, ouvindo o turrar das onças e os uivados dos lobos.

Destino: Barra, lugar desconhecido, isolado de tudo, com pouquíssimos moradores, vindo quase todos da Bahia, os quais haviam fugido dos jagunços de Antonio Conselheiro em época de guerra de canudos.

Chegando ao seu destino, procurou um lugar no meio da selva, fez uma pequena derrubada de arvores, onde construiu seu rancho e cultivou sua roça das poucas sementes que tinha em seu poder. Cercou com pau-a-pique, mas com um motivo peculiar; para impedir que animais não entrassem, pois se não teria sua lavoura destruída, por antas, veados, porcos do mato e outros.

Conta-se que em certa noite de abril, lua cheia, um movimento estranho começou a rondar seu rancho. O burro preso á um cercadinho começou a relinchar, muito apavorado, andando de um lado para outro. Seu cachorro ficava amarrado dentro do rancho,pois se assim nao fosse,seria logo devorado por animais selvagens. Olhando através da parede de pau-a-pique, meu bisavô deslumbrou com uma enorme onça, pronta para atacar o burro. Mais que depressa sai ele para socorrer o seu animal, ficando entre o burro e a felina. Sem arma de fogo, sem um facão no momento, pois na presa não lembrou de armar-se.

Foi quando a fera levantou os membros dianteiros medindo quase 3 metros de altura, esqueceu do burro e partiu para cima do meu bisavô. Vendo meu ancestral em perigo, o cachorro rebentou a corda e partiu para cima da onça, onde tirou sua atenção por momentos. Em questões de segundos meu bisavô teria de tomar uma atitude. Encontrou única solução; quebrou um dos paus da cerca e com uma paulada certeira esfacelou o crânio da onça e venceu a batalha.

Tempos depois chegaram nesta região, o Sr Clemente, pai de Roseno e Juca pai de João Soares, os quais foram os desbravadores desta região, mas digo; meu bisavô foi o pioneiro. Muitos falam de jogadores,isto aquilo. Tudo bem é lógico que faz parte desses ícones cochaninos, mas ficaram no esquecimento os verdadeiros heróis... Meu bisavô merece uma estátua...

Enviada por: Pedro


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