História

Crônica  do  dia  da  eleição



O domingo já amanheceu com o sol escaldando e escancarando mais um dia dessa seca terrível que assola o norte de minas e todo o sertão nordestino.

Mas, nesses tempos de política, só o fazendeiro lembra da falta de chuva.
O povão pensa mesmo é na eleição.

É 22? É 14?, chegou o dia D.
Os nervos estavam a flor da pele.

- Vamos ganhar com 1500 de frente, me confidenciou Loló, 14 doente.
- O povão tá do nosso lado.
Imagina só! Aquele último comício do 22!
Essa eleição tá parecendo a de Laurindo e Chico Reis, e o resultado vai ser o mesmo - Retrucou Miguel Cascudo, 22 cansado de apanhar.

Votei na parte da tarde.
Os grupos ja se formavam nas esquinas, ruas e na praça.

Ás 17:00hs fui pra sorveteria do Nei, pedi um duplo com coca-cola e fiquei aguardando a divulgação do resultado.

Após uns 15 minutos ouvi gritos de alegria vindo do rumo da Escola, onde ocorreu a votação. Olhei pra Rua do Meio e lá do final vinha carros buzinando, motos acelerando e gente gritando:
- Eles (22) só tiveram 10 votos de frente!
Cadê os 200 de frente tiuzada!
Toca a música do jegue aí.

Um ex-político local saiu correndo de sua casa em direção á esquina da praça e quando soube da pequena vantagem do 22, abriu os braços, ajoelhou e gritou: GANHAMOS A ELEIÇÃO, GANHAMOS A ELEIÇÃO!
Voltou na sua casa, pegou a moto e eu perguntei:
- Vai pra onde?
- Vou pra Montalvânia comemorar junto com o Padre Zé.
Saiu e parou no orelhão.

De repente passa Marquin de Tiana na moto buzinando e ouço o pessoal do 22 comemorando. Pensei com meus botões,\" os dois ganharam?
como é isso?
Tão rápido quanto saiu voltou o ex-político. Perguntei:
- Como é isso?
O dois lados estão comemorando.
- Perdemos a eleição. Em Montalvânia Jordão disparou na frente. Ainda bem que telefonei!
Rapidamente juntou gente em frente ao bar de dona Preta.
Rosalvino Polada era só felicidade. Olhou pro lado do restaurante e desabafou:
-\" será que nunca ia chegar o dia d\'eu lavar meu coração?
Cadê o jegue?
Bota o som do jegue!
Antão não parava de dançar, seu Júlio sorria e chorava ao mesmo tempo. Cassimira com uma bandeira corria pela praça, seguida por um cordão. Esfuziantes, seu Messias, D Virginia, Geraldão e outros assistiam a tudo sentados debaixo do centenário pé de tamarindo.

A festa rolou em paz até altas horas.
Foi a vitória dos excluídos.
É inegável que Montalvânia melhorou na administração do 14. As melhorias cessaram e com o tempo veio a arrogância, a discriminação e o comodismo que tomaram conta do povo 14.

Valeu Tita, a bola agora é contigo.

Enviada por: Galvão (São Gonçalo)