História

Só  Filó  Tando



Quero aproveitar esse espaço para narrar um episódio ocorrido há cerca de quarenta anos, no vizinho município de Cocos.

Naquele tempo (presumo que hoje não seja muito diferente), os jovens, em sua maioria, buscavam oportunidade de trabalho em Brasília.

Em razão do baixo nível de escolaridade, as oportunidades apresentavam-se escassas, ralas.

As moças iam trabalhar como empregadas domésticas e os jovens como cobradores de ônibus (os mais letrados) e serventes de pedreiro (os de menor conhecimento das letras).

Um desses jovens tinha chegado recentemente da capital federal. Ostentava galhardia e não se fazia de rogado em exibir novidades e atualidades angariadas naquela cidade.

Certo dia houve um baile numa pequena fazenda, próxima a sua residência. Como todos sabem, as propriedades rurais, na sua maioria, são pequenas e muito estreitas, ao ponto de permitir que alguns gaiatos zombem dos seus proprietários afirmando que, ao morrerem, não poderiam ser enterrados “de travessa” pois os pés invadiriam a propriedade vizinha.

Como era costume, o pessoal das adjacências comparecia em peso ao evento.
Iam a pé.
As mulheres na frente, os homens mais atrás.
Em cada fazenda que passavam, mais pessoas engrossavam os dois grupos.
O grupo de mulheres chegava rápido.
O dos homens chegava com atraso de mais e meia hora já que seus integrantes faziam muitas paradas para tomar a “maldita”.

O baile bombava.
A “latada” na frente da casa estava lotada.
O vendedor de bebidas, num canto da cobertura improvisada, servia pinga, cortezano, jurubeba, paratudo e outras bebidas de padrão e preço equivalentes.
Usava apenas um copo e os fregueses faziam fila.
A cada dose vendida o comerciante mergulhava o copo em uma pequena bacia com água, colocada em cima de uma pequena mesa, dando uma “chaquaiada”.

No final da festa, se alguém bebesse uma dose daquela agua, cairia “bebim” da silva embaixo da mesa.

No auge da festa chega o grupo de mulheres e nele uma prenda se destacava pela beleza. Logo chamou a atenção do nosso galã que, ao vê-la, partiu para o ataque. Convidou-a para dançar.

A dama respondeu de pronto: “EU SÓ DANÇO FILÓ TANDO”.O mancebo coçou a cabeça... Pensou... Afastou-se murmurando: “Caramba, tanto tempo em Brasília e nunca ouvi falar dessa dança nova”.
Aproximou-se do vendeiro, tomou uma ripada dupla de pinga e voltou a abordar a bela senhora: “Vamos dançar, dona!
A resposta foi imediata: “Eu já disse para o senhor, SÓ DANÇO FILÓ TANDO”.

O sujeito se desesperou.
Tomou várias doses da “maldita”. Depois de cada dose, fazia nova investida.
A resposta era sempre a mesma.

Depois da sexta dose, cheio de coragem, resolveu: “Vou dançar esse tal de FILÓ TANDO de qualquer jeito.
Ela vai ter que me ensinar.Partiu para a senhora e fez o ultimato: “Dona, a senhora vai ter que dançar comigo de qualquer jeito!
A mulher, calmamente, explicou: O senhor não está entendendo. Sou casada e só danço com meu marido tando presente. O nome dele é Filó.

Portanto, só danço “FILÓ TANDO”.

Enviada por: Internauta - Belo Horizonte