História

Partida  do  Bisavô



Neste dia, a noite chegou mais cedo em Gerais de São Felipe, Minas Gerais. Mal o sol afundou através da serra, partiu meu bisavô rumo ao desconhecido, deixando para trás tudo; seus parentes e tentar um recomeço de tudo. Noite escura de dezembro, uma garoa persistia á dias, por isso o frio contido nos fundos dos grotões ia se espalhando.

Em companinha apenas de seu burro, um cachorro amigo, variedades de sementes e manivas tuberosas.

Não vou relatar o motivo de sua fuga premeditada, pois não faz parte do que eu quero relatar, nem devo fazê-lo. Foram 30 dias de viagem, descansava de dia e viajava a noite, seria mais seguro para sua pessoa.

E assim embrenhou mata a dentro por aquelas paragens, ouvindo grilos afiando ferros e morcego costurando á esmo, estendendo pano preto, deixando a noite mais assombrosa, ouvindo o turrar das onças e os uivados dos lobos.

Destino: Barra, lugar desconhecido, isolado de tudo, com pouquíssimos moradores, vindo quase todos da Bahia, os quais haviam fugido dos jagunços de Antonio Conselheiro em época de guerra de canudos.

Chegando ao seu destino, procurou um lugar no meio da selva, fez uma pequena derrubada de arvores, onde construiu seu rancho e cultivou sua roça das poucas sementes que tinha em seu poder. Cercou com pau-a-pique, mas com um motivo peculiar; para impedir que animais não entrassem, pois se não teria sua lavoura destruída, por antas, veados, porcos do mato e outros.

Conta-se que em certa noite de abril, lua cheia, um movimento estranho começou a rondar seu rancho. O burro preso á um cercadinho começou a relinchar, muito apavorado, andando de um lado para outro. Seu cachorro ficava amarrado dentro do rancho,pois se assim nao fosse,seria logo devorado por animais selvagens. Olhando através da parede de pau-a-pique, meu bisavô deslumbrou com uma enorme onça, pronta para atacar o burro. Mais que depressa sai ele para socorrer o seu animal, ficando entre o burro e a felina. Sem arma de fogo, sem um facão no momento, pois na presa não lembrou de armar-se.

Foi quando a fera levantou os membros dianteiros medindo quase 3 metros de altura, esqueceu do burro e partiu para cima do meu bisavô. Vendo meu ancestral em perigo, o cachorro rebentou a corda e partiu para cima da onça, onde tirou sua atenção por momentos. Em questões de segundos meu bisavô teria de tomar uma atitude. Encontrou única solução; quebrou um dos paus da cerca e com uma paulada certeira esfacelou o crânio da onça e venceu a batalha.

Tempos depois chegaram nesta região, o Sr Clemente, pai de Roseno e Juca pai de João Soares, os quais foram os desbravadores desta região, mas digo; meu bisavô foi o pioneiro.

Muitos falam de jogadores,isto aquilo.
Tudo bem é lógico que faz parte desses ícones cochaninos, mas ficaram no esquecimento os verdadeiros heróis... Meu bisavô merece uma estátua...

Enviada por: Pedro