No final dos anos 60, do século passado, Montalvânia era uma pacata cidadezinha, com poucas diversões.
Lembro-me somente do cinema dos padres, mais administrado pelo padre Godolfredo; alemão de grande estatura, quando dirigia á palavra á alguém o rosto ficava vermelho como um xinxá e quando sorria fazia tromba. Eu, na época, pequeno, porem gostava muito de cinema, mas dinheiro para pagar o ingresso, nada... Nada.
Sempre eu o pedia para entrar e ele nunca deixava. Então eu aprendi uma forma de entrar sem pagar. Esperava que ele saísse da portaria e adentrasse ao salão.
Como tinha uma cortina dividindo a anti-sala eu esperava ele voltar e quando ele passava de um lado direito da cortina eu passava para o salão pelo lado esquerdo da cortina e assim ia assistir meu filme dos mais tranquilo. Mas nada dura para sempre.
Certo dia ele descobriu minha tramóia e me expulsou do recinto. Sofri alguns sopapos, alguns tapas no pescoço e uns leves empurrões. Nas palavras dele soavam um alemão misturado com português "Sai pa forra do salon.
Vou ti ixpulsar agorra mermon!". Eu muito inocente, não entendia bem as coisas e esta palavra expulsar não me atinou bem e quando eu ouvia pelo rádio que um jogador era expulso de campo, pensava eu que o tal recebeu o mesmo trato que recebia, com 'belos' tapas e empurrões.